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24 de abril de 2017

A FADA DISCÍPULO E O DEVA INSTRUTOR



Em Cotswolds


7 de agosto de 1925



Tenho estado muito interessado em observar um espírito da natureza que nos tem submetido ao mesmo tipo de escrutinização (exame minucioso) que estamos acostumados a fazer sobre seu povo.

Ela é um deva não-individualizado, em um estágio entre a fada e o silfo, possuindo algumas características de ambos.

Embora ela primeiro aparecesse como que caminhando através da floresta densa, e ainda agora esteja pairando entre os topos dos pinheiros que olhamos, ela não parece estar associada definitivamente com as árvores, certamente não está ligada, para fins de trabalho, com nenhuma árvore ou grupo delas. Imagino que ela seja uma fada de flores que esteja passando adiante para uma vida aérea como a dos silfos, e que o tempo de sua individualização esteja chegando rapidamente. Seu corpo é composto da matéria dos sub planos superiores do astral, muito fina, tênue e bela. A forma e maneiras verdadeiras são as de uma vivaz colegial. Neste momento sua aura se parece muito com nuvens semoventes de cor, através das quais passam continuamente ondas e tremulações de luz em intervalos regulares. Ela já tem uma estabilidade bem maior do que a possuída pelas fadas comuns, e evidentemente é capaz de permanecer relativamente imóvel no ar por um longo período de tempo. Ela vê nossos duplos astro-mentais muito claramente, mas ela precisa de alguma concentração maior para ver nossa forma física, e mesmo então sua visão é bem vaga.

Tentando contatar sua consciência, percebo que ela vê principalmente o duplo astral de todos os objetos do plano físico; uma árvore, por exemplo, aparece para ela como uma escura forma central, que corresponde à forma física, interpenetrada e rodeada de uma pálida luz cinza, que eu presumo ser o duplo-etérico, rodeado por sua vez de uma aura astral violeta, que se estende cerca de 15 cm para além da forma física. Para ela, cada árvore é como um motor, dentro e através do qual a força flui do plano astral, vivificando-a e iluminando-a, mantendo-a viva, no seu ponto de vista; e, é claro, ela está certa; pois sem isso ela não poderia viver. Para ela é como se a árvore estivesse desempenhando, em grau muito maior, uma função similar àquela que atribuímos ao átomo físico. Ela vê na raiz da árvore, logo abaixo no nível do solo, um vórtice dourado de energia, onde a força entra do plano astral, e do qual ela passa para todo o corpo da árvore. Ela não parece saber nada dos processos físicos; de qualquer modo, ela não está interessada neles, estando firmemente convencida de que são secundários em relação aos astrais, e relativamente sem importância. Se eu pudesse colocar suas ideias em nossa linguagem - ela rejeitou minhas referências aos processos físicos dizendo: "É o fluxo de forças vitais que importa". Ela diz que sabe sobre os processos do plano físico mais do que nós, de fato, sabemos sobre o seu lado da vida.

Agora ela está tentando entender o que a posse de uma forma física significa para nós, e o que significaria para ela. Ela exerce uma influência "atrativa" sobre mim, como se tentasse saber se poderia deslocar meu corpo. Assim ela atrai e puxa a frente dos meus corpos astral e mental até que toquem os seus - estando ela a uns doze metros de distância - mas ela poderia tentar quanto quisesse, pois não pode exercer nenhuma impressão real sobre o corpo físico denso. 

Sua consciência, em relação ao movimento, é completamente preenchida com a ideia de resposta instantânea que a matéria dos planos mais sutis sempre dá a um ato da vontade; de fato, isto ocorre muito mais no deva do que no humano, pois a matéria de seus corpos sutis parece ser mais vitalizada e elétrica do que a dos nossos. Ela descobriu isso tocando minha aura, que lhe pareceu pesada. Ela mantém uma porção dela em contato consigo mesma, e a examina como faríamos com uma peça de tecido. Tentando unir nossas mentes em alguma extensão, consegui fazer com que ela sentisse a inércia do corpo físico. Ela é muito maior para a sua consciência do que para a minha; para ela a sensação é como a que teríamos se tivéssemos um corpo de chumbo.

Agora ela está se agitando no etérico tentando produzir movimento, e estou ajudando-a a manter um contato com o corpo físico denso tão próximo quanto possível. Por um momento ela sente uma angústia de pânico, e então uma sensação de estar sendo enterrada viva, de desesperado aprisionamento; ela faz enormes esforços para elevar o corpo físico no ar, e isto tem o efeito de esticar o duplo-etérico do corpo e enchê-lo de luz; também faz o físico sentir-se um pouco mais leve, produzindo a curiosa consciência, que se tem às vezes em sonho, de que apenas um pouquinho mais de esforço nos faria flutuar. Neste contato muito íntimo com ela me parece estar como que afrouxando a associação com meu corpo e perdendo a coesão de seus átomos. Eu pensaria que um poderoso deva individualizado poderia transmutar o corpo físico em uma espécie de contraparte astral - talvez seja isso o que acontece nos desaparecimentos. Ela se afastou de novo, e evidentemente foi profundamente afetada pela experiência. Entre as muitas sensações que isso produziu nela está a de espanto, de que possamos suportar perpetuamente este aprisionamento. Ela não parece saber nada sobre a vida e morte, ou mesmo sobre a liberdade durante o sono; eu tentei explicar estas coisas para ela. Nossa vida parece irremediavelmente complexa, e ela não pode entender como podemos escolhê-la em vez da simples existência dévica - pois eles não dão a ênfase indevida sobre a "forma" como nós fazemos. Ela diz: "Ser incapaz de correr livre pelo ar, saltar à distância, disparar através de um vale, e ter de arrastar tão pesada e lentamente um corpo tão rude é pior do que a não existência". Julgando a partir do seu presente estado mental, não parece ser provável que ela seja uma das que se transferirão do reino dévico para o humano, mas devo admitir que para mim o inverso é muito tentador.

Agora recém tentei dar-lhe uma ideia sobre os Mestres; ela, traduzindo a ideia para o seu próprio reino, pensou em algum tipo de superdeva, algum Arcanjo líder de cuja existência ela parece estar consciente. Neste momento o Deva do vale apareceu por trás dela, sorrindo, maravilhoso, em toda sua radiosa beleza, e envolveu-a em sua aura, levando-a para perto de seu lado esquerdo. Isto a encheu de grande felicidade e de um senso de exaltação. Ela ficou ali só por um momento e disparou para longe, exaltada pelo contato, correndo livre como uma criatura das selvas. A relação entre eles parece assemelhar-se muito à existente entre discípulo e Mestre no reino humano.

Na mente do Deva do vale parece existir um claro conhecimento das etapas evolucionárias pelas quais passa seu reino, e antes imagino que tenha sido ele quem colocou a fada e eu em contato, talvez para educação mútua. Ele também é consciente de haver superiores, da ordem hierárquica de sua raça. Uma tentativa de entender sua concepção elevou minha consciência para os espaços extraterrestres. Hesito em descrever a visão que se seguiu porque traduzi-la parece materializá-la e rebaixá-la demais.



Vejo uma longa mesa coberta por uma toalha de luz brilhante, no centro da qual existe uma cruz. Em ambas as extremidades estão sentados grandes seres espirituais da ordem dévica. De cada extremidade parte uma linha de devas, subindo cada vez mais nos céus até que se perdem e só permanece um deslumbrante esplendor, uma radiância inefável; da mesa ascendem degraus, e os devas sobem e descem por eles. Do centro da visão há um contínuo jorro de poder, em onda após onda de cores delicadas, mas vívidas; em dourado e rosa, flui para fora e para baixo, emprestando a toda a cena uma efulgência e um esplendor que estão completamente além dos meus poderes de expressão.


Fonte: Livro O Reino Das Fadas – Geoffrey Hodson - Primeira Edição em 1927 - The Theosophical Publishing House - (Londres).



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