background

22 de dezembro de 2017

RELATO - "NATAL EM HUIZEN" - GEOFFREY HODSON



Sugestão de música:



Natal em Huizen (Países Baixos, Holanda do Norte), 1925.

Ter o privilégio de estar no grande centro Europeu ou em suas vizinhanças, de ser recebido na Casa do Mestre – De Duinen – de participar nos serviços da pequena igreja de São Miguel e Todos os Anjos, é ser atraído para o verdadeiro coração da realidade.

Na verdade seriam muito toscos os sentidos daquele que não pudesse responder ao poder, à maravilha e à alegria e beleza com que o lugar está literalmente saturado.
Mais forte do que tudo, talvez, é a sensação de poder; ele pode ser sentido, à medida que nos aproximamos, até uma distância de meio quilômetro do local; em seu coração existe uma paz perfeita, uma completa tranquilidade, mas isto se manifesta exteriormente como um grande vórtice de energia, cujo efeito pode ser muito perturbador até que a pessoa encontre o que eu só posso descrever como a estabilidade giroscópica no coração. 

Ali se encontra uma tranquila imobilidade, uma calma que nenhum agente externo pode perturbar.
O senso de maravilha é produzido por muitos fatores; para alguém que pertence ao agitado mundo externo, sobrevém um crescente sentimento de espanto, para descobrir uma grande verdade fundamental e espiritual e tornada claramente manifesta neste mundo ilusório que o hábito nos levou a considerar como existência concreta. Ali encontramos liberdade de todos os impedimentos pessoais, uma completa dedicação altruísta e impessoal, sem quaisquer pensamentos sobre o eu, sobre recompensa, sobre ambição, mesmo que espiritual, com que tão amiúde o homem polui suas oferendas a Deus. Em Huizen sentimos que não existem fronteiras fechadas, nenhuma limitação auto-imposta em relação ao mundo exterior, como se no coração de uma grande e populosa cidade existissem um belo jardim privado, continuamente embelezado por flores adoráveis, com gramados suaves e bem cuidados, e muitas árvores sombreadas sem qualquer cerca para defendê-lo ou qualquer aviso impedindo a entrada; ao contrário, o espírito do encantador jardim dos Mestres em Huizen é o de boas vindas a todo o mundo, para que desfrutem de suas belezas e sua paz.

Os anjos visitam Huizen. Eles vêm não apenas com o propósito de trabalhar em conexão com o centro, mas para que também eles sejam revigorados e elevados, assim como seus irmãos humanos. Parece haver um sistema de treinamento para anjos recém-individualizados trazidos por seus irmãos mais velhos, onde são banhados no poderoso magnetismo e aprendem seu trabalho e como encontrar a Senda.

Em minha experiência a respeito do reino dos anjos – mesmo que diminuta – jamais encontrei tanta amistosidade e prontidão para cooperar.
Muitos estão engajados no trabalho de defesa. Um grande centro como Huizen não é criado e mantido sem oposição. Há oposição do mundo comum, no qual ainda infelizmente se encontra muita hipocrisia, intolerância, ódio e ridículo sobre qualquer coisa que vá contra os preconceitos humanos ou esteja além de seu entendimento. Há oposição também daquelas seções da comunidade Cristã que, negando o amor todo-abarcante de seu Fundador, desdenha um “novo” movimento religioso que inclua todas as outras fés em uma única grande fraternidade, que daria livremente aos homens tanto conhecimento dos mistérios de Deus quanto o que fossem capazes de receber, que elevaria os homens das trevas da ignorância espiritual na qual eles quase parecem que se detêm por vontade própria. A oposição não vem apenas disto, mas também daqueles que deliberadamente escolheram o caminho da separatividade como seu caminho para Deus.




Durante minha breve estada, senti em mais de uma ocasião que eram feitas tentativas definidas de encontrar um lugar de penetração, uma fraqueza, uma brecha que não foi
guardada, uma fresta na armadura que guarda a unidade dos irmãos que ali trabalham através da qual pudesse ser feito um ataque.

Grande como indubitavelmente é o privilégio de viver ali, também grande é a responsabilidade, pois a menos que possa ser mantida uma perfeita harmonia, um perfeito entendimento, uma completa tolerância mútua e um permanente senso de unidade em uma grande obra, a fraqueza da humanidade se manifestará e através dela o ataque será feito. Não é agradável contemplar o Karma de pessoas ou grupos que ocasionam a entrada de forças disruptivas. Até onde se pode avaliar no presente, parece não haver perigo de tal catástrofe, e os devas trabalham com uma tão perfeita unidade, um consenso tão absoluto, que sua vigilância e o feliz afeto e respeito mútuo de seus colaboradores humanos provê uma defesa impenetrável. A contemplação destas coisas produz um sentimento de maravilha.

Durante as celebrações Natalinas a sensação de alegria me pareceu ser a nota predominante; ela brilhava nas faces do sacerdote, no acólito e em toda a congregação; penetrava toda a atmosfera da estação festiva. Nunca antes o significado do Natal me pareceu tão claro e sua mensagem tão real, como se os anjos continuamente nos cantassem: 

“Elevai vossos corações com alegria, pois Cristo em verdade nasceu entre os homens – em verdade Ele está agora convosco!”.

A consciência do Cristo interno parecia ter sido desperta, como se Ele enfim viesse a morar no coração e, com a brilhante radiância de Sua vida, as pétalas da rosa mística começassem a se abrir para revelar um pouco de Sua beleza.

Nesta atmosfera de comunhão interna e júbilo, transcorreu o Natal; em 28 de dezembro [Algumas semanas depois que isto foi escrito chegaram notícias de que o Senhor havia falado mais uma vez na grande assembléia de jubileu da Sociedade Teosófica em Adyar, em 28 de dezembro de 1925], uma nova luz pareceu brilhar sobre nós, trazendo-nos um maior sentimento de Sua proximidade física e humana, como se o significado literal do Natal fosse entendido, e aquela Presença que está em milhares de altares se aproximasse de nós, de uma forma diferente e mais humana; à medida que a semana passava este sentimento se aprofundou, e a mensagem da Estrela se combinou à da Igreja; alguns de nós sentiram que uma santa felicidade havia passado pela face da Terra, porque o Senhor havia tão graciosamente entrado em nossos corações e também veio em uma visitação externa e objetiva. Assim de fato o Natal foi um tempo de júbilo. Onde quer que haja anjos há beleza. Huizen, sendo um centro angélico, é portanto um lugar onde a beleza está sempre manifesta. Os anjos parecem dar boas-vindas a todos os que cruzam seus portões; algumas vezes eles cumprimentam seus irmãos devotos em seu caminho para a igreja e, na noite passada, depois da bênção solene, á medida que caía a escuridão da última noite do ano, pareceu-me que dois anjos se moviam um de cada lado nosso enquanto caminhávamos para casa. Suas auras se tocavam à frente e atrás de nós, e na encantadora atmosfera de sua amizade protetora, sentimos que verdadeiramente está chegando o tempo em que uma vez mais os anjos caminharão com os homens.

Muitos eram vistos voando pelo ar de volta á igreja: talvez assim, na última noite do ano que encerrava, eles acompanhassem de volta para suas casas todos aqueles que haviam se juntado a eles no culto e no louvor.

Durante os serviços, sempre tão belos, os anjos pareciam se unir às pessoas e compartilhar de sua felicidade, mantendo um serviço unificado nos planos superiores. Verdadeiramente gloriosos foram os vislumbres que ocasionalmente captei de seu derramamento de devoção e amor, e como, em grandes grupos, eles “cantaram” conosco, até que todo o templo ocidental construído pela Eucaristia ficasse repleto com a música destes coros celeste. Além do alcance de minha visão limitada, senti outros “seres resplandecentes” mais majestosos e gloriosos desempenhando, em seus níveis, sua parte na construção do centro nos mundos internos.

Por mais estranho que possa parecer, um pouco desta beleza e santidade internas está começando a brilhar através de todos que tão zelosos trabalham aqui; às vezes quase perco o fôlego ao ver um corpo transfigurado, uma face com um brilho de santidade, como se uma transformação maravilhosa estivesse tendo lugar nos corações e mentes, assim como nos próprios átomos do corpo daqueles que, neste local, vêm regularmente para servir o seu Senhor. Eles próprios estão se tornando como os anjos, não só em aparência, mas na unanimidade de sua participação consciente no trabalho interno dos sacramentos. Firmes como estão no conhecimento da ciência da Igreja, o efeito produzido é extremamente rápido e seguro, e o templo, construído não por alguma mão, é erguido com perfeição exata e com um mínimo de esforço. O resultado de tudo isto é que na pequena igreja há uma atmosfera que só encontra paralelo em algumas das velhas catedrais da Europa, e de lá se irradia amplamente um poder e uma bênção que dificilmente se comparam em extensão até mesmo aos das maiores e mais antigas igrejas do Ocidente. No coração de toda esta beleza está o Amor, aquele Amor Divino e Perfeito que dissipa todo o medo e se irradia d’Ele que é o Coração do Mundo.




Em Huizen sentimo-nos tão perto d’Ele que em verdade somos “elevados à imensidão de seu Amor”. E assim, em Huizen, nasce a resolução de Ano Novo, de tentarmos viver de modo que Seu Amor possa brilhar através de nós com glória inalterada, não maculada por qualquer pensamento no eu, não empanada pela sombra de qualquer coisa impura, para que assim iluminados possamos de fato “exalar a fragrância de uma Vida Santa”. Das profundezas de
nosso coração agradecemos àqueles Grandes Seres que deram Huizen ao mundo, pois de lá emana uma influência que, se pudéssemos apenas usá-la, transformaria este nosso mundo entristecido em uma “sempre radiante estrela de amor”.

Deixem-me encerrar esta descrição completamente pobre com a prece de São Miguel e Todos
os Anjos:

“Deus todo-poderoso e eterno, com todos os nossos corações louvamos a Ti, pela glória de
Teus Santíssimos Anjos; agradecemos a Ti pela grande glória de Teus Santíssimos Anjos;
agradecemos a Ti por Sua sabedoria maravilhosa, Sua força suprema, Sua beleza radiante; e como Teu poder irresistível é usado sempre e completamente em Teu serviço, possamos assim, seguindo zelosos teu exemplo resplandecente, devotarmo-nos por completo à ajuda de nossos irmãos, através de Cristo nosso Senhor. Amém”.


Fonte: Livro O Reino Das Fadas – Geoffrey Hodson - Primeira Edição em 1927 - The Theosophical Publishing House - (Londres).

Bênçãos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Imprimir ou Salvar em PDF

Print Friendly and PDF