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20 de fevereiro de 2018

RELATO - "OBSERVANDO A SUBIDA DA MARÉ"




Abril de 1922.

Como sucedeu em outras ocasiões, estou impressionado com o fato de que, até onde a vista alcança, ao longo da costa ou ao longe no mar, o espaço aéreo se mostre tão densamente povoado por incontáveis espíritos da Natureza das mais variadas fases de linha evolutiva, desde a criaturas menores, de aspecto humano, que brincam nas ondas, passando pelas variedades maiores de espíritos do mar (alguns dos quais assemelham-se a peixes e mesmo a pássaros, embora geralmente apresentem cabeça e tronco humanos), até os grandes devas, com sua calma majestosa, em suas paragens de alto-mar.

Como já dissemos anteriormente, parece que, à medida que aumenta a vitalidade elétrica com a subida da maré, as hostes de espíritos do mar se recobrem com matéria etérica, a fim de partilhar mais intensamente do magnetismo revigorante e vitalizador que é gerado e se manifesta à proporção que o nível das águas sobe mais e mais.

Quando sobrevém a calmaria relativa do baixo-mar, eles se retiram para o plano astral, onde vão desfrutar as sensações estimulantes por que passaram a aguardar ansiosamente a nova mudança da maré, para uma vez mais repetir os processos revitalizantes que, em larga escala, confundem-se com a sua própria vida. É possível, para cada um de nós, reproduzir, no íntimo, um pouco deste formidável êxtase, observando-os e esforçando-nos para unir a nossa consciências à deles.

Este processo de auto-exaltação, que é por eles continuamente repetido, parece desencadear-se a uma certa distância no mar, de onde eles se precipitam, com rapidez incrível, até a linha de rebentação para aí entrar em contato com o magnetismo da maré, que se irradia para o alto e para baixo, enquanto dura a subida das águas, aumentando de intensidade e potência à medida em que o nível da preamar é alcançando.

Ingressando no campo magnético, eles se tornam visíveis na forma humana, quase sempre impressionando o olho físico por meio de clarões de luz branca; então, passam a avançar lentamente, absorvendo o magnetismo e experimentando uma sensação de intenso prazer, até que seja alcançado um estado em que mesmo os seus organismos etéreos nada mais podem conter; sobrevém uma pausa momentânea, na qual o rosto externa a alegria mais radiante e vital e todo o ser é envolvido por uma auréola luminosa, algo como uma descarga elétrica. Quando o ponto de saturação é alcançado, a energia se dissipa totalmente; a criatura deixa então o campo de visão etérica num estado de letargia onírica e uma vez mais se retira para o plano astral.

Durante este processo, o corpo astral chega a expandir-se até o dobro de seu tamanho natural (que, por sua vez, é duas vezes maior do que o corpo denso); ele é enormemente estimulado pela experiência, cujo efeito parece perdurar por um tempo considerável. A força absorvida e descarregada torna-se afetada pelas vibrações do espírito do mar, que a especificou, tal como o prana é absorvido e especificado pelo ser humano.

Uma outra variedade de espírito do mar é aquela que se assemelha a uma enorme gaivota com cabeça humana e cujas asas, longas e alvas e em constante agitação, são formadas pela configuração áurica; elas não estão dispostas como nos pássaros, sugerindo antes dois raios recurvados de uma roda e lembrando um utensílio agrícola bastante  comum, o corta-palha, com sua grande roda e suas lâminas curvas. Tais espíritos do mar não parecem voar como os pássaros o fazem, mas giram continuamente em torno de seus próprios corpos, virando e rodopiando velozmente no espaço, de dez a quinze metros acima das ondas. Pelo visto, o espetáculo de sua exibição é contínuo, sem pausa, e com ele se divertem, porém de modo menos concentrado e sistemático do que dá a entender a descrição. Um exemplar de tamanho médio é cerca de duas vezes maior do que as gaivotas maiores. Assemelham-se bastante a roda voadoras, de cor branca, girando no espaço.

Enquanto eu escrevia estas linhas, sentado num ancoradouro a uns dez ou quinze metros acima da linha de rebentação, diversos espíritos do mar, de cor branca e aspecto humano, nos observavam; alguns erguiam-se bruscamente, pairavam por um momento no ar e olhavam, um tanto espantados, em nossa direção, como que surpresos por verem um ser humano tentando entrar em seu reino. Os seus rostos são extraordinariamente belos e de aspecto totalmente humano; nem mesmo os olhos possuem aquela expressão inumana que é tão característica a todos os tipos de devas da natureza. É difícil afirmar exatamente em que eles se distinguem de nós. A intensidade de nossas emoções parece sugerir-nos calor ou, pelo menos, fervor de sentimentos; por outro lado, nos espíritos do mar eu sinto um frio intenso, qual uma vibração de outro mundo, um mundo fisicamente frio, embora emocionalmente vivo. Lembram-me a Lua pois, no fundo, a despeito de toda a rapidez de seus movimentos e da intensidade de seus sentimentos, há neles uma frieza impassível, como se coração nenhum batesse nesta réplica quase mecânica de uma das forças da Natureza. Seus sentimentos parecem se tornar mais glaciais à medida que aumenta a sua exaltação, como se eles não passassem de materializações da eletricidade magnética. O centro da consciência parece estar localizado na cabeça, onde se manifesta sob a forma de uma chama brilhante. Não possuem nenhum corpo etérico estável, mas são capazes de assumir temporariamente um corpo, a fim de manter contatos com o plano físico.


Fonte: Livro O Reino dos Devas e dos Espíritos da Natureza - Geoffrey Hodson. Editora Pensamento. Tradução de Hugo Mader.

Título original: Fairies at work and at play.


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