OS CONSTRUTORES
As minhas investigações pessoais sugerem que o processo de produção da forma é auxiliado pela ação de Hierarquias de Inteligências Criadoras — Arcanjos e suas hostes angélicas — as quais, como corporificações da Inteligência Universal, conhecem o modelo ou arquétipo e, aliando-se à força-Verbo, intensificam ou ampliam sua capacidade formativa. Estes Seres vivem nos mundos super-físicos e atuam perpetuamente como agentes modeladores da forma, de acordo com o Verbo. Deve ser entendido que os termos espiritual e super-físico não implicam em separação espacial do universo físico. A matéria em cada grau de densidade coexiste espacialmente, a menos densa interpenetrando amais densa. O laboratório da Natureza e seus "artífices", "artistas" e "químicos" se encontram no interior da substância física, algo como as ondas artesianas transmitidas pelo ar e uma corrente elétrica ao longo de um fio. Ambos, prótilo (substância primária) e protoplasma, são "carregados" do interior pela Força vital subjacente, imanente ordenadora, criadora, formadora.
No nível físico-etérico, as Hierarquias de Inteligências criadoras são sempre representadas pelos construtores menores da forma, os espíritos da natureza, os Sephiroth em miniatura, que operam instintivamente, em grande escala, atuando segundo linhas de força — estimulantes para eles — as quais formam os modelos geométricos estabelecidos no éter onipenetrante pela emitida e vibrante Força-Verbo-Pensamento.
O "VERBO"
No primeiro capítulo foi apresentado um conceito do Logos como um Músico e o processo contínuo da criação como execução de uma grande sinfonia.
Isto, "A Magna Obra", Ele a concebeu e desenvolveu nos primitivos "Dias" criadores* e talvez a aperfeiçoou no silêncio e na escuridão da intermediária "Noite" criadora.
Quando, mais uma vez, tem de haver luz, Ele "fala" e pelo poder de Seu "Verbo" traz todas as coisas à existência. Esta primeira expressão do "motivo" do novo universo é "ouvida" ou "respondida" pela matéria virgem, e aparecem gradualmente os planos da natureza com suas formas e habitantes. Nestes, o Logos verte perpetuamente Sua Vida, para que possam viver, sendo este o Seu contínuo sacrifício, a Sua eterna oblação (ato de fazer uma oferta a Deus).
O Logos ou Verbo não é em realidade palavra nem voz de Ser algum. É a Vontade pura, expressiva do presumido propósito ou intento do divino Pai-Mãe, de gerar o Universo. É o irresistível, onipenetrante, inerente impulso para a autoexpressão, expansão (donde a denominação de Brahma, da palavra sânscrita brih — expandir e crescer) e plenitude que reina no coração de toda a Natureza e toda a Criação, desde o mais elevado até o menos. É a vontade de plenitude que "ressoa" naquele momento Cósmico, quando a Ideação divina emana pela primeira vez do Absoluto como Luz-Vontade.
Através dos Dias e Anos Cósmicos que se sucedem, a Luz-Vontade chama à existência sóis, planetas e seres, em obediência à lei. Nível após nível, plano após plano, de crescente densidade, vêm à existência, e gradualmente
corporificam e evidenciam a Luz-Vontade. As Mônadas emitem seus Raios. Os seres emanam e povoam os planos. Cada vez mais profundamente penetra o Verbo-Pensamento-Vontade Cósmicos, acordando a substância dormente, forçando seus átomos a responder, incorporar e ecoar ou ressoar o Verbo-Cósmico. A Luz irradia do Centro para iluminar a escuridão e tornar visível o manto até então invisível, que envolve a Mãe Universal.
A Vontade torna-se mais potente. O som do Verbo faz-se mais forte e a Luz mais brilhante, com o perpassar dos Éons. As Mônadas tornam-se mais radiantes e seus emitidos Raios mais dilatados e mais brilhantes. As regiões mais densas tomam as formas pretendidas. A escuridão exterior dá passagem á Luz, e onde antes era o Caos, impera a divina Ordem.
Em cada ser assim chamado à existência, como morador e trabalhador nos mundos criados, os processos cósmicos são microcosmicamente reproduzidos e realizados paralelamente. Tal qual o todo, cada parte responde. No homem, como um dos moradores e mourejadores nos mundos, a inércia e o silêncio Inerentes à matéria dão lugar ao movimento rítmico e à Voz criadora — "ouvida" e "respondida".
No homem, como no universo, a escuridão é substituída pela luz. O "Verbo" universal, quando proferido, manifesta-se em miríades de acordes, cada qual como som coerente e autoexistente, com suas manifestações de força e luz. Cada acorde aparece como forma abstrata, relativamente imutável, Arquétipo ou ideia divina, nos mundos superiores de cada um dos planetas. Estes Arquétipos, por sua vez, ressoam seus "Verbos" "retransmitindo" nos mundos inferiores a força-Verbo original. Campos magnéticos são ali estabelecidos, a matéria é atraída para eles, e com o auxílio dos Deuses, é modelada em formas evolucionantes. Essas formas, vivificadas pela Vida divina, tornam-se a morada das inteligências (as Mônadas) nas fases de desenvolvimento mineral, vegetal, animal, humano e super-humano. Como resultado de experiências nas formas, essas inteligências, ajudadas pelas Consciências Criadoras, gradualmente desenvolvem suas faculdades e poderes inatos até atingir o grau de desenvolvimento estabelecido para elas e para as formas. As Consciências Criadoras são assim concebidos como construtores de formas e assistentes da evolução da consciência.
Quando este padrão foi alcançado por todos os seres e, em obediência à lei dos ciclos, o tempo, o limite da manifestação objetiva foi atingido, todo o sistema solar é recolhido ao estado subjetivo. Nesta condição ele permanece até que, sob a mesma lei cíclica, reaparece, e o processo de desenvolvimento ou ascensão continua a partir do ponto atingido no final do período precedente de manifestação objetiva. A filosofia oculta vê este processo continuando indefinidamente, não havendo limites para as possibilidades evolucionárias. Esta progressão ordenada não tem um começo concebível nem um fim imaginável.
AS HIERARQUIAS CRIADORAS
As energias criadoras de que todas as formas são o produto,
primeiramente emitidas com som ao ser proferido o "Verbo", podem ser imaginadas como procedendo de uma Fonte central, espiritual, representada fisicamente pelo sol. Em suas fontes estas energias têm uma tremenda potência. Toda a categoria de Deuses, desde os Arcanjos Solares até os anjos planetários, de alguma maneira servem de transformadores elétricos. Eles recebem em si o poder criador, primordial,
e como que resistindo ao seu fluxo, lhe reduzem a "voltagem". Dos Deuses Solares passa por seus irmãos menores, em grau decrescente, até atingir os mundos físicos. Aí, com o auxílio dos espíritos da natureza, transformam a matéria nas formas concebidas pela Mente Criadora.
A capacidade do som para produzir formas pode talvez encontrar apoio nas figuras sonoras, que podem ser formadas pelas vibrações de substâncias, emitindo um tom musical. Figuras geométricas, por exemplo, são formadas pela areia numa lâmina de vidro ou metal, quando o arco de violino é retesado na extremidade. Ernst Florens Friedrich Chladni (1756-1827), físico alemão, produziu figuras geométricas acústicas, que eram formadas por linhas nodais numa lâmina vibrando, tornadas visíveis pelo espargimento da areia na lâmina, onde ela se assenta nas linhas de menor resistência. Jules A. Lissajous, cientista francês (1822-1880) produziu figuras formadas por curvas devidas à combinação de dois movimentos harmônicos simples. São comumente exibidas pelos reflexos sucessivos de um raio de luz dos garfos de dois diapasões ou pelo traço mecânico do movimento resultante de dois pêndulos como em harmonógrafo, ou por intermédio das varinhas de Wheatstone. Lissajous também produziu as figuras dadas por um diapasão vertical e outro horizontal, vibrando simultaneamente. As figuras diferem quando os garfos do horizontal, vibrando simultaneamente. As figuras diferem quando os garfos do diapasão estão em uníssono ou em diferenças variáveis de fase de notas isoladas. Se a capacidade do som físico de produzir formas pode também ser atribuída à energia criadora sonora ou força-Verbo emitida em níveis super-físicos, então a Doutrina do Logos encontra alguma base científica.
A Ordem dos Deuses que assim ajudam o Logos no processo da produção de formas evolutivas pela pronunciação do "Verbo", é conhecida como a dos Construtores. Os membros das categorias superiores desta Ordem — dos quais uma linhagem é conhecida no Hinduísmo como Ghandarvas ou Deuses da Música — são conscientes do propósito criador, percebem e conhecem os Arquétipos ou ideias divinas. Pela auto-unificação com a força-Verbo descendente, particularmente com as correntes que vibram em frequências idênticas às de sua própria natureza, eles as amplificam e conseqüentemente aumentam o seu poder produtor de formas.
Porque, dentro da Ordem dos Construtores existem hierarquias que são manifestações dos acordes do "Verbo" criador, de que os Arquétipos e formas são expressões. Esta afinidade de vibração atrai a hierarquia particular para o seu campo apropriado de trabalho como construtores-de-forma nos quatro reinos da Natureza.
O ouro, por exemplo, pode ser considerado como o produto físico da energia criadora vibrando na frequência em que o ouro se manifesta em termos de força. O ouro, como também todas as substâncias, está representado no "Verbo" criador como um acorde, que é a expressão em termos de som da ideia divina do ouro. A força-Verbo é emitida da Fonte espiritual, e percutindo na matéria virgem, pelos processos anteriormente descritos, fá-la fisicamente tomar a típica disposição molecular e a forma cristalina do ouro.
*De acordo com a filosofia oculta, o Sistema Solar, obedecendo a uma lei cíclica universal, emerge, entra em obscuridade e reemerge, perpetuamente. Cada “criação” nova continua o processo evolucionário do estágio alcançado no final da era precedente. Estes períodos de obscurecimento e de manifestações são conhecidas como “Noites” e “Dias”; em sânscrito, Pralayas e Manvântaras.
Fonte: Livro O Reino dos Deuses - Geoffrey Hodson. Editora Pensamento.
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