Coneyhurst Hill, Hurtwood, perto de Ewhurst
17 de abril de 1926
Estamos sentados na margem de uma floresta constituída de larícios e pinheiros muito velhos, que cobre esta colina de arenito; das rampas ao sul podemos ver um vasto panorama do belo interior, que se estende até South Downs.
Uma atmosfera de alegria e jocosidade espontâneas pervade toda a atividade dos vários membros da evolução dévica que se encontram nestas redondezas.
Há um forte vento sudoeste, no qual os silfos são vistos brincando; suas cabriolas consistem de corridas longas, rápidas e diretas no vento por quilômetros e quilômetros até que se perdem na distância; ou de rotações, volteios, e súbitas partidas verticais, seguidas por mergulhos de tirar o fôlego, que cessam abruptamente logo acima do topo das árvores, e de novo seguidos de subidas igualmente rápidas milhares de metros no ar. Aqui e ali, grupos se juntam em uma selvagem dança aérea, com suas auras se projetando atrás deles como se sopradas pelo vento, seus olhos selvagens de excitação; intoxicados de alegria, dançam em grandes círculos, subitamente formados e subitamente desmanchados, exultando no poder e energia vital de que seu lar aéreo está carregado nesta maravilhosa manhã de primavera.
Sob estas condições eles perdem frequentemente toda a semelhança com a forma humana, parecendo se tornar turbilhonantes massas de força e energia vital, nas quais subitamente aparecem graciosas formações do feitio de asas, longas curvas fluentes, uma sugestão de braços ondulantes, e de cabelo flutuando no vento; muitas vezes aparecem dois olhos coruscantes, e uma face de beleza transcendente, combinando em sua expressão um ar completamente impossível para o gênero humano, exaltação, êxtase intoxicante, e uma virilidade e poder ferozes. Agora mesmo um se detém, pairando tão perto que parece encher os céus com sua aura brilhante e dominar todo o campo de visão com sua dinâmica presença; num átimo já se vai, desaparecendo na distância remota, cobrindo léguas e léguas das “vastas savanas azuis” em um único segundo; ele parece guiado por uma energia e carregado de um poder sobre os quais ele mesmo não tem senão controle parcial, como se tivesse se embriagado tão profundamente de vitalidade aérea – do poder do vento que sopra ao longo dos descampados, fazendo os abetos cantarem com aquela longa e soluçante canção que é tão estranhamente parecida com o distante murmúrio do mar – que era incapaz de manter uma posição estacionária.
O contato com a consciência do silfo nestas condições me sugere um estado de energia concentrada similar àquele encontrado dentro do átomo; produz a sensação de compressão, de um ponto de quase explosão, de energia incalculável, atemorizante em sua potência, embora inofensiva porque é confinada a canais prescritos de fluxo. Fico quase oprimido pelo contraste entre esta vívida existência e nossa vida humana na carne, que parece tão torva e limitada dentro destas formas humanas pesadas e irresponsivas. Mesmo no nível mental, por exemplo, eu não teria chance alguma numa corrida com um silfo, pois enquanto eu estivesse ainda planejando partir, ele já teria alcançado a linha de chegada. A própria matéria de seu corpo é viva e infusa de energia e movimento; pareceria que, enquanto para nós é preciso exercitar a vontade para nos movermos, com alguém como ele, que recém encheu e inundou a atmosfera perto de nós com sua vívida presença, o oposto é verdadeiro, pois parece quase impossível permanecerem parados.
Mas enquanto tento esta descrição, sou forçado à conclusão de que isto deve se restringir a certos membros da família dos silfos, pela esplêndida visão de um deva pairando, relativamente imóvel, a cerca de 700 metros acima do solo. Com cinco a seis metros de altura, ele é banhado de uma radiante opalescência branca, que parece atuar continuamente através e sobre ele. Estudando este fenômeno mais de perto, a força, da qual ele é uma expressão, parece brotar de dentro da forma central – humana, e como se revestida desta radiância branca – ao longo de toda a altura e continuamente fluir para fora em ondas para as bordas da aura. A cor predominante muda continuamente, como a de uma opala que é atingida pela luz do sol, embora infinitamente mais delicada; agora um azul, agora um rosa, agora um verde maçã suave, atravessam e inundam toda a aura, enquanto que a nobre cabeça e face permanecem num rosa delicado. Os braços estão levemente estendidos para os lados; nesta atitude, com o poder emanando dele em todas as direções e alcançando distâncias variando de nove a dezoito metros desde a forma central, este grande deva “paira” no alto do céu.
Ele parece uma vez ter pertencido à ordem dos silfos e ter evoluído para além da sua raça. Em volta, acima e abaixo dele, brincam seus irmãos mais novos, fazendo sua pose mais marcada pelo contraste com sua ágil mobilidade, seu rápido deslocamento através do espaço.
Uma vez mais a ordem hierárquica é revelada, pois ele parece ser um deva avançado, de algum modo responsável pelas vidas e progresso evolucionário de seus irmãos. A despeito da intensa concentração dos níveis superiores de sua consciência, ele conscientizou-se de minha tentativa de contatá-lo, e seu reconhecimento em resposta encheu-me com tanto de seu poder quanto sou capaz de receber. O efeito é interessante de observar; meus corpos astral e mental – temporariamente iluminados – tendem a se arranjar em uma disposição algo semelhante à sua própria; sua força “desce” dos níveis causais e emerge de dentro de meus corpos astral e mental, carregando-os com poder e então fluindo para fora até as bordas; mesmo aqui embaixo no físico denso atua uma forte vibração.
O deva é o centro de considerável atividade entre os silfos, grupos dos quais estão continuamente se aproximando dele; parece que alguma forma de comunicação tem lugar entre ele e os demais, após o que eles partem para suas várias esferas de atividade. Alguns deles são devas da natureza e estão ligados ao reino vegetal. Embora sua consciência seja ativa nos níveis mentais inferiores, sua forma é visível no astral, e a maioria daqueles que se aproximam dele o fazem neste nível. São devas de bosques e árvores, brilhantemente coloridos, muitos dos quais mostram em suas auras a forma e cor da árvore ou bosque a que estão ligados; alguns deles evidentemente são associados a árvores frutíferas ora em floração, e suas auras apresentam as cores do pomar ou da árvore em plena florada.
Evidentemente a associação do espírito da natureza com uma árvore tem o efeito de imprimir a forma da árvore em sua aura, seja por um sistema de repercussão ou através da forte auto identificação mental do espírito da natureza com a árvore; deste modo eles parecem carregar seu trabalho com eles até seu chefe, que assim pode observá-lo, e corrigi-lo, bem como influenciá-lo diretamente.
O leitor pode ter alguma dificuldade em conceber um deva, cuja aura contenha a forma e cor de, digamos, uma macieira em flor. Seguindo um destes espíritos da natureza até seu trabalho, vejo que ele se “estabelece” dentro da árvore, o que lhe permite envolvê-la completamente com sua aura. Aparentemente ele fica nesta posição por consideráveis períodos de tempo, influenciando o desenvolvimento da consciência vegetal, bem como a de espíritos da natureza menores, pela contínua atuação de suas próprias forças vitais mais vívidas.
Como resultado deste método de trabalho, a contínua atuação das forças vitais da árvore – ao longo das linhas fixas do tronco, galhos, ramagem, folhas e flores – se imprime na aura. O efeito é dos mais belos quando um número destes espíritos da natureza sobe juntos de um pomar, levando no ar duplicatas de suas incumbências junto com eles; enquanto pairam, ainda mantendo-se mais ou menos juntos, cada um subindo e descendo um pouco, são formadas ondas destas réplicas brancamente floridas; então, como se sob algum sinal, toda a companhia se mobiliza e sobe até dentro da aura do deva, levando consigo a atmosfera de beleza, alegria e a frescor primaveril da Natureza recém-desperta. Ele parece inspecionar e então abençoar; algumas vezes ele envolve um indivíduo ou grupo mais intimamente dentro de sua aura e os mantêm lá, liberando-os mais tarde. Eles parecem um voo de magníficos pássaros quando voltam aos seus respectivos deveres.
De certo modo isto o afeta, e sua aura aumenta de tamanho e brilho à medida que este trabalho prossegue. Correntes de luz procedem dele até o solo quando sua bênção é trazida através do ar por seus serviçais, e todo o fenômeno de seu “trabalho matutino” começa a assumir proporções além do poder de minha pobre pena descrever, e também de minha mente compreender.
Com o risco de materializar toda a concepção, eu poderia compará-la a uma enorme empresa, cujo diretor controla e guia suas atividades através de seus muitos agentes, ele próprio permanecendo dentro da privacidade de seu escritório. Mas diferente dos negócios modernos, contudo, todo este vasto campo de trabalho é banhado por uma atmosfera de júbilo extraordinário, de completa cooperação natural e implícita aceitação do líder e obediência às suas ordens.
Do topo desta colina vemos abaixo as planícies de Surrey e Sussex, que se estendem para oeste, sul e leste, naquilo que é chamado “o jardim da Inglaterra”. A experiência que estive descrevendo me fez perceber a adequação do termo, e também deu-me uma mais larga apreciação do trabalho da hierarquia dévica no cumprimento do plano do Grande Jardineiro do Universo.
Fonte: Livro O Reino Das Fadas – Geoffrey Hodson - Primeira Edição em 1927 - The Theosophical Publishing House - (Londres).
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