Em Cotswolds
7 de agosto de 1925
Tenho estado muito interessado em observar um espírito da
natureza que nos tem submetido ao mesmo tipo de escrutinização (exame minucioso) que estamos
acostumados a fazer sobre seu povo.
Ela é um deva não-individualizado, em um estágio entre a
fada e o silfo, possuindo algumas características de ambos.
Embora ela primeiro aparecesse como que caminhando através
da floresta densa, e ainda agora esteja pairando entre os topos dos pinheiros que
olhamos, ela não parece estar associada definitivamente com as árvores,
certamente não está ligada, para fins de trabalho, com nenhuma árvore ou grupo
delas. Imagino que ela seja uma fada de flores que esteja passando adiante para
uma vida aérea como a dos silfos, e que o tempo de sua individualização esteja
chegando rapidamente. Seu corpo é composto da matéria dos sub planos superiores
do astral, muito fina, tênue e bela. A forma e maneiras verdadeiras são as de
uma vivaz colegial. Neste momento sua aura se parece muito com nuvens
semoventes de cor, através das quais passam continuamente ondas e tremulações
de luz em intervalos regulares. Ela já tem uma estabilidade bem maior do que a
possuída pelas fadas comuns, e evidentemente é capaz de permanecer relativamente
imóvel no ar por um longo período de tempo. Ela vê nossos duplos astro-mentais
muito claramente, mas ela precisa de alguma concentração maior para ver nossa
forma física, e mesmo então sua visão é bem vaga.
Tentando contatar sua consciência, percebo que ela vê
principalmente o duplo astral de todos os objetos do plano físico; uma árvore,
por exemplo, aparece para ela como uma escura forma central, que corresponde à
forma física, interpenetrada e rodeada de uma pálida luz cinza, que eu presumo
ser o duplo-etérico, rodeado por sua vez de uma aura astral violeta, que se
estende cerca de 15 cm para além da forma física. Para ela, cada árvore é como
um motor, dentro e através do qual a força flui do plano astral, vivificando-a
e iluminando-a, mantendo-a viva, no seu ponto de vista; e, é claro, ela está
certa; pois sem isso ela não poderia viver. Para ela é como se a árvore
estivesse desempenhando, em grau muito maior, uma função similar àquela que
atribuímos ao átomo físico. Ela vê na raiz da árvore, logo abaixo no nível do
solo, um vórtice dourado de energia, onde a força entra do plano astral, e do
qual ela passa para todo o corpo da árvore. Ela não parece saber nada dos
processos físicos; de qualquer modo, ela não está interessada neles, estando
firmemente convencida de que são secundários em relação aos astrais, e
relativamente sem importância. Se eu pudesse colocar suas ideias em nossa
linguagem - ela rejeitou minhas referências aos processos físicos dizendo:
"É o fluxo de forças vitais que
importa". Ela diz que sabe sobre os processos do plano físico mais do
que nós, de fato, sabemos sobre o seu lado da vida.
Agora ela está tentando entender o que a posse de uma forma
física significa para nós, e o que significaria para ela. Ela exerce uma
influência "atrativa" sobre mim, como se tentasse saber se poderia
deslocar meu corpo. Assim ela atrai e puxa a frente dos meus corpos astral e
mental até que toquem os seus - estando ela a uns doze metros de distância -
mas ela poderia tentar quanto quisesse, pois não pode exercer nenhuma impressão
real sobre o corpo físico denso.
Sua consciência, em relação ao movimento, é completamente
preenchida com a ideia de resposta instantânea que a matéria dos planos mais
sutis sempre dá a um ato da vontade; de fato, isto ocorre muito mais no deva do
que no humano, pois a matéria de seus corpos sutis parece ser mais vitalizada e
elétrica do que a dos nossos. Ela descobriu isso tocando minha aura, que lhe
pareceu pesada. Ela mantém uma porção dela em contato consigo mesma, e a examina
como faríamos com uma peça de tecido. Tentando unir nossas mentes em alguma
extensão, consegui fazer com que ela sentisse a inércia do corpo físico. Ela é
muito maior para a sua consciência do que para a minha; para ela a sensação é
como a que teríamos se tivéssemos um corpo de chumbo.
Agora ela está se agitando no etérico tentando produzir
movimento, e estou ajudando-a a manter um contato com o corpo físico denso tão
próximo quanto possível. Por um momento ela sente uma angústia de pânico, e
então uma sensação de estar sendo enterrada viva, de desesperado
aprisionamento; ela faz enormes esforços para elevar o corpo físico no ar, e
isto tem o efeito de esticar o duplo-etérico do corpo e enchê-lo de luz; também
faz o físico sentir-se um pouco mais leve, produzindo a curiosa consciência,
que se tem às vezes em sonho, de que apenas um pouquinho mais de esforço nos
faria flutuar. Neste contato muito íntimo com ela me parece estar como que
afrouxando a associação com meu corpo e perdendo a coesão de seus átomos. Eu
pensaria que um poderoso deva individualizado poderia transmutar o corpo físico
em uma espécie de contraparte astral - talvez seja isso o que acontece nos
desaparecimentos. Ela se afastou de novo, e evidentemente foi profundamente
afetada pela experiência. Entre as muitas sensações que isso produziu nela está
a de espanto, de que possamos suportar perpetuamente este aprisionamento. Ela
não parece saber nada sobre a vida e morte, ou mesmo sobre a liberdade durante
o sono; eu tentei explicar estas coisas para ela. Nossa vida parece
irremediavelmente complexa, e ela não pode entender como podemos escolhê-la em
vez da simples existência dévica - pois eles não dão a ênfase indevida sobre a
"forma" como nós fazemos. Ela diz: "Ser incapaz de correr livre pelo ar, saltar à distância, disparar
através de um vale, e ter de arrastar tão pesada e lentamente um corpo tão rude
é pior do que a não existência". Julgando a partir do seu presente
estado mental, não parece ser provável que ela seja uma das que se transferirão
do reino dévico para o humano, mas devo admitir que para mim o inverso é muito
tentador.
Agora recém tentei dar-lhe uma ideia sobre os Mestres; ela,
traduzindo a ideia para o seu próprio reino, pensou em algum tipo de superdeva,
algum Arcanjo líder de cuja existência ela parece estar consciente. Neste
momento o Deva do vale apareceu por trás dela, sorrindo, maravilhoso, em toda
sua radiosa beleza, e envolveu-a em sua aura, levando-a para perto de seu lado
esquerdo. Isto a encheu de grande felicidade e de um senso de exaltação. Ela
ficou ali só por um momento e disparou para longe, exaltada pelo contato,
correndo livre como uma criatura das selvas. A relação entre eles parece
assemelhar-se muito à existente entre discípulo e Mestre no reino humano.
Na mente do Deva do vale parece existir um claro
conhecimento das etapas evolucionárias pelas quais passa seu reino, e antes
imagino que tenha sido ele quem colocou a fada e eu em contato, talvez para
educação mútua. Ele também é consciente de haver superiores, da ordem
hierárquica de sua raça. Uma tentativa de entender sua concepção elevou minha
consciência para os espaços extraterrestres. Hesito em descrever a visão que se
seguiu porque traduzi-la parece materializá-la e rebaixá-la demais.
Vejo uma longa mesa coberta por uma toalha de luz brilhante,
no centro da qual existe uma cruz. Em ambas as extremidades estão sentados
grandes seres espirituais da ordem dévica. De cada extremidade parte uma linha
de devas, subindo cada vez mais nos céus até que se perdem e só permanece um
deslumbrante esplendor, uma radiância inefável; da mesa ascendem degraus, e os
devas sobem e descem por eles. Do centro da visão há um contínuo jorro de
poder, em onda após onda de cores delicadas, mas vívidas; em dourado e rosa,
flui para fora e para baixo, emprestando a toda a cena uma efulgência e um
esplendor que estão completamente além dos meus poderes de expressão.
Fonte: Livro O Reino Das Fadas – Geoffrey Hodson - Primeira
Edição em 1927 - The Theosophical
Publishing House - (Londres).
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