Consciência Arbórea
Cotswolds
18 de agosto de 1925
Assim como todo animal, durante a encarnação, é um
indivíduo, embora apenas temporário, assim toda árvore, durante sua vida,
desenvolve uma individualidade própria. As grandes e velhas faias neste vale
desenvolveram uma individualidade distinta, e deste modo possuem um senso de
ser, uma pálida forma de autoconsciência.
O contato com este senso de individualidade produz uma
estranha sensação, como se estivéssemos na presença de enormes e imóveis
entidades, cada consciência em si separada do resto, cada uma possuindo uma
certa porção de consciência própria, cada uma tendo uma atmosfera e exercendo
uma influência definidas. Quando ultrapassamos o corpo físico da árvore
encontramos uma personalidade, e sua consciência pode ser tocada. Agora mesmo,
quando uma leve brisa agita a mata, suscitando o sussurrante murmúrio das faias
e espalhando-o em suspiros por toda a mata, a consciência arbórea é consciente
de sua chegada.
Sensações inteiramente novas são produzidas em minha
consciência quando eu toco sua vida interior e adentro em algum pequeno grau o
reino das árvores; é como penetrar em um país estrangeiro, vendo um tipo todo
novo de pessoas, e me ajustando a novos valores. Sinto que este
"povo" é muito sensível aos humores da Natureza, às mudanças de tempo
e estação, e que ele certamente possui consciência suficiente para
reconhecê-los. Poderíamos dizer que eles sentem e reconhecem cada brisa,
através de um tipo de consciência que diria a si mesma: "Ah, eis a brisa
da tarde, como seu toque é agradável quando faz meus ramos ondularem e meu
tronco oscilar, e minhas folhas roçarem". Quase arrisco dizer que ela
procura suas companheiras mais próximas para dizer "Ela voltou".
Esta consciência embebe cada ramo e cada raiz da árvore,
embora seu centro pareça estar no tronco principal; ele parece sensível até as
derradeiras extremidades dos ramos, de modo que cada movimento das folhas e
galhos mais distantes envia uma vibração através de algum sistema nervoso
embriônico, alguma linha astral de sintonia, ao longo da qual as sensações
chegam à consciência central. No caso das faias, a impressão que se recebe é
decididamente a de uma personalidade masculina, e continuamente me vejo
pensando nelas como homens árvores. Um contato mais íntimo revela a presença de
algum tipo de pressão interna para o crescimento, a qual posso traduzir mais
adequadamente como um desejo de se estender; como se a vontade divina, que está
sempre pressionando para diante ao longo da senda evolutiva, se manifestasse
deste modo na consciência arbórea, de maneira que o "homem árvore"
sente um desejo de se esticar mais e mais além dos últimos galhos de seu corpo
físico; a sensação é semelhante à de enfiarmos a mão em uma luva, só que em vez
de cinco dedos aqui há milhares. É um território estranho para a consciência
humana, um território onde as árvores são cidades com seu povo vivendo muito
junto, os raminhos e tufos terminais são vilas distantes e, de certo modo, o
todo é visto como unido, sendo parte de uma grande consciência, o grande
ser-árvore, cujas crianças são todas as árvores.
O homem-árvore é o somatório da consciência astral da
árvore; e ele usa o duplo etérico da árvore como veículo através do qual ele
recebe sensação física. Considerado do ponto de vista da alma-grupo, cada
árvore dentro dela é vista como uma encarnação individual, variando em
desenvolvimento principalmente de acordo com a idade. O uso da palavra
“indivíduo” deve ser aceito com reservas, embora quanto mais eu investigue mais
eu percebo que existe uma entidade definida no caso das grandes e velhas
árvores, e que isto é algo que corresponde ao sentimento de família em seu
próprio nível, uma consciência de relacionamento grupal. O sentimento mais
forte de que são capazes resulta do vívido fluxo da força vital através do
duplo-etérico da árvore; isto é uma perene e sempre crescente fonte de
sensação, que deve ser traduzido como a de prazer.
Toda árvore tem um coração vital, uma espécie de plexo
esplênico e solar fundidos em um só, no qual as forças vitais se derramam, e de
onde são distribuídas por todo o sistema. Quando me recosto em uma grande e
poderosa faia, e em certa medida entro em contato com a consciência em seu
interior, a contínua vibração daquele processo é muito nítida – de fato, todo o
meu corpo vibra em sintonia, e os corpos etérico e astral também são
poderosamente afetados; é uma sensação ondulante e rítmica, com algo em sua
fonte vagamente correspondente a um pulsar; posso ouvir o som disto,
astralmente, como se a árvore fosse um diapasão em vibração contínua; isso me
dá a impressão de uma nota de canto, um murmúrio afinado, vindo do próprio
centro do tronco e ressoando por todo o sistema. Quando uma rajada de vento
atinge a árvore ocorre uma modulação; a nota muda e varia continuamente de
acordo com a intensidade e direção do vento. A brisa agora é muito leve e
intermitente, e a mudança não é mais do que um quarto de tom acima e abaixo da
nota fundamental.
Esta experiência suscita em mim estranhos sentimentos, não
“memórias”, como se eu fosse levado de volta a períodos remotos quando eu
também vivia em condições similares; de fato, tudo é estranhamente e cada vez
mais familiar, e, à medida que eu me acostumo às vibrações e me torno mais capaz de me unificar a elas, quase sinto que
as árvores, por sua vez, ficam cônscias de maneira vaga daqueles que as amam e
admiram.
O novo ponto de vista que emerge desta experiência é que as
árvores não são apenas madeira em crescimento, membros úteis do reino vegetal,
ou meras características da paisagem – elas são coisas vivas e extremamente
sensíveis. Elas estão se aproximando do cume de sua montanha evolutiva, se
abeirando dos limites de seu reino.
As árvores que cobrem este vale têm muitos amigos vivos, e
eu pareço ouvir o murmúrio de suas muitas vozes como quando vizinho conversa
com vizinho entre o frescor primitivo e a imaculada e poderosa pureza do mundo
arbóreo.
Torno-me consciente de uma profunda felicidade e
contentamento, e me ocorre o pensamento de que a humanidade poderia muito bem
tentar construir em seu caráter um pouco mais da robusta força e estabilidade,
do modo de ser profundamente rítmico que caracteriza tantas das árvores.
O Espírito da Terra
- Nota de um Deva -
23 de agosto de 1925
“Todas as coisas que tu chamas de ‘Natureza’ – árvore, flor,
semente, raiz, grama, montanha, monte, colina e vale – são expressões da vida
do Grande Ser que tem esta Terra como o seu corpo físico. Tu podes pensar nas
pedras como o esqueleto e o solo como a carne, os rios como os vasos sanguíneos,
a água dos rios e mares como o sangue e as correntes magnéticas como fluindo ao
longo dos nervos deste corpo – a vegetação mantendo a mesma relação para com
este corpo que o cabelo para com o teu.
“Tu estás certo em supor que o Reino de Pã está incluso
neste corpo, embora tenhas ainda muito a aprender sobre seu lugar ali. Pã
manifesto é uma efloração da consciência da Terra, uma expressão relativamente
ativa daquilo que normalmente é quiescente.
"O Espírito da Terra se expressa através da Terra como
uma forma ou veículo, mas não como os humanos ou os devas o fazem, muito pelo
seu movimento e atividade, mas através do crescimento e desenvolvimento de seus
produtos naturais. Dizendo isso, não devemos esquecer que a revolução da Terra
em torno de seu eixo e sua translação em sua órbita em torno do Sol constituem
formas de movimento, que também têm sua parte na expressão e evolução da
consciência do Espírito da Terra, como se tu te expressasses apenas pelo
crescimento e movimento de teu corpo. Esta estupenda consciência se difunde
igualmente por todo o globo, e tem seu centro no coração da Terra, e centros
subsidiários em outras partes, relacionados a certas áreas especiais na
superfície. É nestas áreas ou centros de força do Espírito da Terra que se
reúnem as grandes civilizações. O Egito, por exemplo, é um deles. Shamballa é
outro; existe outro ainda na Índia, um na Europa Central, um na Irlanda –
outros onde hoje existem mares, a serem usados pelas humanidades do futuro. As
hierarquias estão conscientes destes centros e os utilizam para progresso de
seu trabalho. O Espírito da Terra é um ser em evolução, assim como o globo é
uma forma em evolução que já passou por todos os graus de densidade, e, tendo
atingido o ponto mais denso, iniciou sua jornada ascendente. As mudanças na
vegetação, o crescimento gigantesco das florestas arcaicas, o desenvolvimento
de novas espécies – de árvores, cereais, frutas e flores – tudo isto é
expressão da consciência em evolução do Espírito da Terra. E tudo aponta para
uma culminação numa unidade que integra a Vida Única que está por trás de toda
forma manifesta neste planeta, e neste sentido ele é um representante do Logos.
Aquele ‘estender-se’ da consciência da árvore que tu sentiste em outra tarde
resulta da pressão ascendente de sua vida em evolução, assim como o fazem o
vulcão e a inundação. De outro ponto de vista, ele é a lente que focaliza a
vida do Logos e a expressa como o ímpeto incessante e irresistível, o poder
condutor que, estando por trás de toda forma, produz crescimento, e sem o qual
haveria estagnação. A expressão de sua consciência, contudo, não se limita os
reinos mineral e vegetal; já produziu outras formas, nem humanas nem animais, é
verdade, mas tendo a aparência de ambos: são as criaturas de Pã. Estranhas e
sobrenaturais como possam te parecer, elas são expressões naturais de certos
aspectos de sua consciência; quase poderias considerá-los como suas
brincadeiras, ou talvez como sendo resultados de certos experimentos que ele
fez.
"Nas remotas eras do passado, antes do desenvolvimento
da mente, estas criaturas de Pã eram mais objetivas, mais materiais, e de fato
andaram na Terra, e ocasionalmente foram contatadas pelos primitivos homens da
Arcádia. Quando começaram as grandes mudanças que o desenvolvimento da emoção e
da mente trouxeram à vida humana, Pã já não foi considerado um associado
desejável, e portanto foi retirado do plano material, mas ele ainda existe e
pode ser encontrado ainda, como tu provaste. Pode ainda retornar mais adiante
um tempo em que esta associação seja retomada. Pã estava no arco descendente
quando o seu ciclo e o da humanidade se tocaram no passado: no futuro distante,
quando o ponto correspondente for alcançado no próximo ciclo, Pã estará na
senda de retorno.
Entre as muitas grandes mudanças que estão acontecendo, uma
surgirá como resultado do que pode ser descrito como um despertar do Espírito
da Terra dentro de sua forma, um despertar que trará certos aspectos de sua
vida para mais perto da superfície e mais ao alcance da consciência humana. Os
efeitos disto serão muitos. Um deles será o de levar os homens mais para perto
da Natureza, e deste modo permanecerem simples entre a complexidade cada vez
maior que tão marcadamente caracteriza a presente fase do desenvolvimento
humano. O contato com ele tenderá a desenvolver o lado místico da consciência
humana, e exercerá um efeito coordenante, sintetizante e unificante sobre o
homem. Todos estes desenvolvimentos, embora aparentemente resultados de
diversas correntes de vida, estão previstos para ocorrerem em certos períodos
particulares; pois por trás da diversidade, por trás mesmo do Espírito da
Terra, existe a Vontade Única que é onipotente, a Mente Única que é onisciente,
e a Vida Única que é onipresente, e, coordenada por isto, a evolução prossegue
irresistível, perfeitamente, em uma sequência ordenada de eventos em seu rumo
majestoso”.
Obs: O deva que concedeu estas informações começou um
esquema regular de ensinamentos em 1926, cujos primeiros frutos foram
publicados sob o título de “A Fraternidade de Anjos e Homens”.
Fonte: Livro O Reino Das Fadas – Geoffrey Hodson - Primeira
Edição em 1927 - The Theosophical
Publishing House - (Londres).
Gratidão eterna! :)
ResponderExcluir